Ludmila Brandão
Oscilações
de Herê Fonseca é um experimento que esculpe o ar, no ar, dando visibilidade a
alguns movimentos e deixando invisíveis outros, dos quais captamos apenas o
vento deslocado pelo corpo que passa. Ainda que na trilha daquilo que é chamado
de arte cinética, de artistas como Jean Tinguely e Alexander Calder, as
oscilações apontam para outro fenômeno. Funcionam como uma espécie de negativo
do vazio, para dizer que a obra, mais do que aquilo que é mostrado, é o que
sobrou entre essas peças, é o espaço praticado por esses objetos que oscilam ao
menor movimento, que denunciam o intruso, que deduram, numa micro-oscilação,
que algo se passou por ali, que seja uma molécula de ar deslocando-se de um
ponto para outro da sala porque, talvez, alguém respirou, tão somente. A obra
maior, se ainda faz sentido a expressão, é o que acontece entre os corpos dos
objetos e dos seres; é o espaço flagrado em seu nascimento, o espaço no sentido
que nos traz a palavra doce e potente da língua francesa: l’évènement; o
acontecimento único, irrepetível, irreproduzível, que garante e assina a
imanência do mundo.
Ludmila
Brandão - crítica de arte - Cuiabá MT
link para o Jornal da Associação Brasileira dos Críticos de Arte ABCA com matéria da crítica de arte Ludmila Brandão sobre o trabalho de Herê Fonseca. PAGINA 8
Esculturas para pensar a arte:
o corpo, os objetos-sujeitos e, de sobra, a crítica.
Ludmila Brandão-ABCA