Jogos de possíveis
Oscar D'Ambrosio
Quando se pensa na agitação que a sociedade vive e que cada indivíduo repercute de uma maneira perante o coronavírus e a COVID-19, o pensamento geométrico pode ser uma espécie de válvula de escape, um descanso racional que pode conduzir a uma praia existencial para escapar de terremotos e maremotos simbólicos e reais do presente.
As obras de Herê Fonseca que ilustram este post trazem à tona a riqueza de uma linguagem geométrica, que muitos acreditam ser necessariamente mais fria. No entanto, talvez seja justamente nos jogos possíveis entre áreas e setores pintados de cores distintas e em diversos formatos que esteja o grande interesse desse tipo de trabalho.
A percepção apurada ou a emoção mais delicada presente em cada obra do artista se dá pela maneira como são realizadas numerosas experiências até que seja atingido o resultado desejado. O processo envolve, além de experiências com a geometria propriamente dita, um estudo aprofundado de tonalidades. O progressivo entendimento de como as cores e as formas, em conjunto ou isoladamente, podem atingir a emoção e/ou a razão do espectador é uma das riquezas da arte. Na sua caminhada, Herê Fonseca oferece as próprias respostas, embasadas naquilo que ele já viu, no que experimenta no ateliê e nos projetos que desenvolve, com ou sem pandemia.
Mágica da visão.
Conheci Herê Fonseca no final dos anos 90, na condição de
membro da Comissão Julgadora do Mapa Cultural Paulista. O contato com o jovem
artista foi breve, mas intenso. Seu interesse pelas questões relacionadas com a
arte extrapolava os limites convencionais. Queria saber mais, questionar sobre
critérios, sobre possibilidades do fazer artístico. Lembro-me de ter-lhe dito que a arte não é o
domínio do real, mas do possível, que ela não se refere ao que é, mas ao que
pode ser. E que a missão do artista, na visão de Paul Klee, não é a reprodução
da realidade, mas a produção de uma nova realidade, independente e autônoma.
Perdi, na
sequência, contato pessoal com o artista, de quem me chegavam notícias, de
quando em vez e por meios diversos, dando conta que ele continuava muito
atuante em Piracicaba, onde participava dos eventos artísticos mais
significativos da cidade e na qual realizava exposições individuais de peças
tridimensionais, espécie de garatujas metálicas aéreas, sustentadas por fios
presos ao teto, de esculturas espaciais, que se configuram como um desenho no
espaço e que originam novas linhas ao serem projetadas como sombras nas
paredes. O movimento provocado pelo vento ou pelo toque remete a um espetáculo
mágico de matérias, luzes e sombras, sutil, harmonioso ou agitado em função de
interferências suaves ou incisivas. Trabalhos nessa linha de pesquisa constituem contribuição original de Herê na
produção de uma nova realidade, a de seu universo artístico, que tem peso e
leveza ao mesmo tempo, material e imaterial, e com a qual ele constrói uma
poética próxima à da dança. Paralelamente, ele desenvolve uma outra série de
pinturas e de trabalhos em que peças de arame são incorporadas a pinturas.
Imagino que Herê
lembrou-se por acaso do crítico que com ele cruzou há mais de 10 anos em São
Paulo. Em novembro de 2009, o Jornal da ABCA – Associação Brasileira de
Críticos de Arte, em seu numero 22, publicou a notícia do lançamento de um
livro de nossa autoria e, concomitantemente, uma consubstanciada matéria sobre
a obra de Herê Fonseca, referenciado na exposição “Oscilações”, realizada no
SESC Arsenal, de Cuiabá, redigida pela critica, professora e curadora Ludmila
Brandão. Foi nesta ocasião que tive notícias mais recentes do artista, que ele
mudou-se para Mato Grosso, onde vive e trabalha atualmente.
Agora,
inesperadamente, sou convidado pelo artista, por intermédio da profa. Maria
Thereza Azevedo, a redigir um texto sobre ele para a nova exposição que realiza
no MACP: Cubo Negro. Não poderia, de
forma alguma, declinar-me da tarefa, mesmo não tendo visto a obra a vivo, como
seria desejável. Informações e imagens
me foram enviadas. Desta feita, Herê mostra, no interior de um cubo, uma série
de esboços em guache preto sobre papel branco, visíveis com o auxílio de lanternas
penduradas no interior do espaço. A instalação sugere uma viagem às origens da
criação, à morada das idéias que se transformam, através da sensibilidade e do
gesto do artista, em linhas e manchas, signos e sinais. Herê, que em outros
momentos desenhou no espaço, desenha agora no piso e nas paredes internas de um
cubo, espécie de útero em que a obra de arte é gerada. Em ambos os casos,
todavia, Herê pratica o que Merleau-Ponty denominaria de uma teoria mágica da
visão.
Enock Sacramento
Membro da ABCA - Associação
Brasileira de Críticos de Arte
O Cubo
Negro e as caligrafias em tom menor de Herê Fonseca
Ludmila
Brandão
[caligrafias]
No extraordinário filme O livro de cabeceira de Peter Greenaway, Nagiko sai em busca de um escritor-calígrafo a quem pudesse oferecer o corpo como livro, a pele como página, e usufruir os prazeres estéticos simultâneos do texto e da caligrafia, seguidos dos prazeres do sexo. Essa conjunção encarnava, para Nagiko, a suprema perfeição. Logo compreendemos que ela tão somente visava performar, uma vez mais, a escritura ritual com que o amado pai lhe ungia, a cada um dos seus aniversários, invocando os princípios do mundo. O deslizar do pincel úmido sobre a pele fresca, o cheiro acre do nankin fundido ao calor do corpo próximo do pai, a escuta das palavras mágicas grafadas sobre seu rosto, sua nuca e o toque final em vermelho, com a ponta do indicador, sobre seus lábios: eis o ritornello que conferia a Nagiko o sentido de sua existência. À morte do pai, instala-se a obsessão e o início da longa busca.
A história de Nagiko nos leva a pensar, a contrapelo da cosmogonia cristã, que o princípio não se deu com o verbo, mas com o gesto. E que o texto primeiro, muito antes de qualquer verbo tornar-se possível – mesmo os grunhidos de uma proto-fala −, terá sido aquilo que, de algum modo, se fez impressão de um gesto, seja como vestígio (índice), seja como traço, deliberadamente signo. O gesto impresso é então nosso primeiro texto: das pegadas da presa, habilmente “lidas” por nosso ancestral aos conjuntos de signos dos mais diversos sistemas lingüísticos atuais, longos e múltiplos caminhos se desenharam.
Paralelamente às poéticas do texto (em prosa ou verso) vemos surgir poéticas do traço conhecidas como caligrafia, que compreende desde criações completamente utilitárias às obras maiores dessa arte onde a expressão abstrata pode adquirir mais importância que a legibilidade dos signos.
Diferentemente das caligrafias chinesa, árabe ou japonesa que resistem como arte, a caligrafia no Ocidente entrou em declínio com a invenção da imprensa, em uma espécie de abdicação do traço como elemento do poema na poesia, deixando ao desenho e à pintura a exclusividade de sua exploração.
Por isso, por mais estranho que possa parecer, é um pintor (e não um escritor) que nos apresenta esta delicada exposição de caligrafias.
[o cubo negro]
Em uma das visitas que fiz à Herê Fonseca para conhecer sua produção, que inclui pinturas e objetos, fui apresentada aos seus cadernos de desenho. Um número espantoso (na escala dos milhares) de esboços em preto e branco, em pinceladas rápidas sobre papel sulfite, compõe isso que preferi tomar por cadernos de caligrafia. Como diz Wagner Barja no texto deste catálogo, “estas espécies de desenhos nunca são trazidas a público, eles ficam arquivados em pastas e permanecem numa região de limbo, excêntricos a toda produção visível do artista”.
Tais esboços, ao modo dos vocalizes para o cantor − que também os faz em privado − são exercícios do traço (ou do gesto que resulta em traços). É nessa repetição sem fim, e aparentemente sem propósito, que o calígrafo-pintor, como Nagiko, reencena sua busca obsessiva, à cata, talvez, do gesto/traço epifânico que tomará como assinatura.
Cada um dos despretensiosos desenhos de Herê Fonseca, feitos para não serem expostos, não poderiam, a rigor, serem tomados como obras em si e, daí não terem sido destacados individualmente. No entanto, a exposição conjunta dos esboços, ao modo Cubo Negro, além do perceptível valor como experimento, como propositor estético e não como obra (para lembrar HO), constitui uma preciosa compreensão/intuição do trabalho do artista, raramente oferecida ao público. É uma exposição que, a seu modo, se pretende metalingüística.
Em Cubo Negro, as formas precedem-nos na escuridão, pré-existem como virtualidade. Ao artista cabe o trabalho, necessariamente obsessivo e extenuante, de escavação de formas outras que venham a compor e reconfigurar nosso mundo em sua frágil e transitória ordem. Na escuridão, tateia, escava, descobre, colhe, escolhe e compõe formas que pretenderão dizer seu nome (como no ritual de Nagiko), como assinatura de um mundo singular.
Mas seria esta uma experiência exclusiva do artista? A escuridão não seria, acaso, nosso lugar comum? Não estamos todos à procura de formas que coloquem um pouco de ordem no caos que nos cerca e habita? Que nos conformem (e confortem)? Que nos permitam respirar? Que nos salvem da ameaçadora desrazão? Formas de estar no mundo, de pensar o mundo, de se relacionar, fazer, amar e resistir. Formas de ser livre, de ser leve, de ter, enfim, uma vida que não seja vida nua, que não seja zoé, uma vida que seja digna de ser vivida[i].
No extraordinário filme O livro de cabeceira de Peter Greenaway, Nagiko sai em busca de um escritor-calígrafo a quem pudesse oferecer o corpo como livro, a pele como página, e usufruir os prazeres estéticos simultâneos do texto e da caligrafia, seguidos dos prazeres do sexo. Essa conjunção encarnava, para Nagiko, a suprema perfeição. Logo compreendemos que ela tão somente visava performar, uma vez mais, a escritura ritual com que o amado pai lhe ungia, a cada um dos seus aniversários, invocando os princípios do mundo. O deslizar do pincel úmido sobre a pele fresca, o cheiro acre do nankin fundido ao calor do corpo próximo do pai, a escuta das palavras mágicas grafadas sobre seu rosto, sua nuca e o toque final em vermelho, com a ponta do indicador, sobre seus lábios: eis o ritornello que conferia a Nagiko o sentido de sua existência. À morte do pai, instala-se a obsessão e o início da longa busca.
A história de Nagiko nos leva a pensar, a contrapelo da cosmogonia cristã, que o princípio não se deu com o verbo, mas com o gesto. E que o texto primeiro, muito antes de qualquer verbo tornar-se possível – mesmo os grunhidos de uma proto-fala −, terá sido aquilo que, de algum modo, se fez impressão de um gesto, seja como vestígio (índice), seja como traço, deliberadamente signo. O gesto impresso é então nosso primeiro texto: das pegadas da presa, habilmente “lidas” por nosso ancestral aos conjuntos de signos dos mais diversos sistemas lingüísticos atuais, longos e múltiplos caminhos se desenharam.
Paralelamente às poéticas do texto (em prosa ou verso) vemos surgir poéticas do traço conhecidas como caligrafia, que compreende desde criações completamente utilitárias às obras maiores dessa arte onde a expressão abstrata pode adquirir mais importância que a legibilidade dos signos.
Diferentemente das caligrafias chinesa, árabe ou japonesa que resistem como arte, a caligrafia no Ocidente entrou em declínio com a invenção da imprensa, em uma espécie de abdicação do traço como elemento do poema na poesia, deixando ao desenho e à pintura a exclusividade de sua exploração.
Por isso, por mais estranho que possa parecer, é um pintor (e não um escritor) que nos apresenta esta delicada exposição de caligrafias.
[o cubo negro]
Em uma das visitas que fiz à Herê Fonseca para conhecer sua produção, que inclui pinturas e objetos, fui apresentada aos seus cadernos de desenho. Um número espantoso (na escala dos milhares) de esboços em preto e branco, em pinceladas rápidas sobre papel sulfite, compõe isso que preferi tomar por cadernos de caligrafia. Como diz Wagner Barja no texto deste catálogo, “estas espécies de desenhos nunca são trazidas a público, eles ficam arquivados em pastas e permanecem numa região de limbo, excêntricos a toda produção visível do artista”.
Tais esboços, ao modo dos vocalizes para o cantor − que também os faz em privado − são exercícios do traço (ou do gesto que resulta em traços). É nessa repetição sem fim, e aparentemente sem propósito, que o calígrafo-pintor, como Nagiko, reencena sua busca obsessiva, à cata, talvez, do gesto/traço epifânico que tomará como assinatura.
Cada um dos despretensiosos desenhos de Herê Fonseca, feitos para não serem expostos, não poderiam, a rigor, serem tomados como obras em si e, daí não terem sido destacados individualmente. No entanto, a exposição conjunta dos esboços, ao modo Cubo Negro, além do perceptível valor como experimento, como propositor estético e não como obra (para lembrar HO), constitui uma preciosa compreensão/intuição do trabalho do artista, raramente oferecida ao público. É uma exposição que, a seu modo, se pretende metalingüística.
Em Cubo Negro, as formas precedem-nos na escuridão, pré-existem como virtualidade. Ao artista cabe o trabalho, necessariamente obsessivo e extenuante, de escavação de formas outras que venham a compor e reconfigurar nosso mundo em sua frágil e transitória ordem. Na escuridão, tateia, escava, descobre, colhe, escolhe e compõe formas que pretenderão dizer seu nome (como no ritual de Nagiko), como assinatura de um mundo singular.
Mas seria esta uma experiência exclusiva do artista? A escuridão não seria, acaso, nosso lugar comum? Não estamos todos à procura de formas que coloquem um pouco de ordem no caos que nos cerca e habita? Que nos conformem (e confortem)? Que nos permitam respirar? Que nos salvem da ameaçadora desrazão? Formas de estar no mundo, de pensar o mundo, de se relacionar, fazer, amar e resistir. Formas de ser livre, de ser leve, de ter, enfim, uma vida que não seja vida nua, que não seja zoé, uma vida que seja digna de ser vivida[i].
[i] “Os gregos não possuíam um termo
único para exprimir o que nós queremos dizer com a palavra vida. Serviam-se de
dois termos, semântica e morfologicamente distintos, ainda que reportáveis a um
étimo comum: zoé, que exprimia o simples fato de viver comum a
todos os seres vivos (animais, homens ou deuses) e bíos, que
indicava a forma ou maneira de viver própria de um indivíduo ou de um grupo.”
Giorgio Agambén. Homo Sacer: O poder Soberano e a Vida Nua. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2002, p.9.
Forma e escuridão.
Wagner Barja
Revelar o sentido da arte é tarefa difícil quando se traduzem estas revelações de dentro da própria obra.
Herê Fonseca extrai da escuridão as imagens que vão revelar de dentro de um cubo negro, o amálgama de uma plástica que externa e formaliza sem recursos intermediários, a linguagem primitiva do desenho.
São
exibidos aqueles desenhos fluídicos e extremamente descomprometidos de um
pretensioso e esmerado acabamento, expressivos devaneios, que todo artista
vocacionado nesta linguagem pratica à revelia e, livremente os elabora sem
muito planejamento.
Normalmente,
estas espécies de desenhos nunca são trazidas a publico, eles ficam arquivados
em pastas e permanecem numa região de limbo, excêntricos a toda produção
visível do artista. Mas aqui, ao contrário do lugar comum do esquecimento e da
invisibilidade, Herê teima em revelar e mostrar sem pudores, o que para o
público ficaria invisível, Esta é uma parte do seu mundo inconsciente que num
total exercício de liberdade é traduzida apropriadamente no interior de um
obscuro cubo negro, substantivo geométrico, que envolve e protege a idéia que
re-qualifica a exposição.
O
artista recorre à metáfora do elemento “caixa preta” para exibir, ou melhor,
externar seu inconsciente através de desenhos monocromáticos.
Numa
possível retro- leitura da “caverna de Platão” provoca-se o visitante a fazer
uso de lanternas, para poder ver as imagens.
Há de se ter algum esforço para enxergar, para se perceber e assimilar o
conjunto gráfico no interior do cubo/caverna. É necessário também alguma dose
de cegueira para se entender este
insensato mundo.
Herê
Fonseca é um intuitivo, em arte, raramente planeja o que faz, pois há em sua
mente um arquivo dinâmico, sempre a funcionar, num constante acender e apagar
de lanternas para o que deseja iluminar e comunicar, sempre por meio do traço
livre e despretensioso do desenho.
Curiosamente
há neste recente projeto de Herê Fonseca um diferenciado planejamento, onde a
estrutura geométrica do cubo negro é utilizada para abrigar e reafirmar a livre
e informal expressão de linguagem do desenho, mas também deixa um pouco à
deriva o percurso do visitante. Como se quisesse o artista, revelar também o
complexo e rico mecanismo de sua mente e, por inteiro, nos permitir penetrar no
espaço de sua personalidade.
*
Wagner Barja – é artista plástico, Mestre em Arte e Tecnologia das Imagens pela
Universidade de Brasilia – Notório Saber em Plástica – História e Teoria da
Arte – Arte-Educação, conferido pelo Conselho Superior de Educação / MEC. Curador e crítico. Atualmente dirige o Museu
Nacional do Conjunto Cultural da República, em Brasília
Experimentos espaciais (oscilantes) de Herê Fonseca: o vazio pleno de ar, linhas e movimento.
Ludmila Brandão
Oscilações
de Herê Fonseca é um experimento que esculpe o ar, no ar, dando visibilidade a
alguns movimentos e deixando invisíveis outros, dos quais captamos apenas o
vento deslocado pelo corpo que passa. Ainda que na trilha daquilo que é chamado
de arte cinética, de artistas como Jean Tinguely e Alexander Calder, as
oscilações apontam para outro fenômeno. Funcionam como uma espécie de negativo
do vazio, para dizer que a obra, mais do que aquilo que é mostrado, é o que
sobrou entre essas peças, é o espaço praticado por esses objetos que oscilam ao
menor movimento, que denunciam o intruso, que deduram, numa micro-oscilação,
que algo se passou por ali, que seja uma molécula de ar deslocando-se de um
ponto para outro da sala porque, talvez, alguém respirou, tão somente. A obra
maior, se ainda faz sentido a expressão, é o que acontece entre os corpos dos
objetos e dos seres; é o espaço flagrado em seu nascimento, o espaço no sentido
que nos traz a palavra doce e potente da língua francesa: l’évènement; o
acontecimento único, irrepetível, irreproduzível, que garante e assina a
imanência do mundo.
Ludmila Brandão - crítica de arte - Cuiabá MT
OSCILAÇÕES,
uma exposição para ouvir.
Dolores Galindo
Dolores Galindo
Em Oscilações, armações de
arame, cobertas (nem sempre integralmente) por cola e folhas de jornal
envelhecidas, delineiam móbiles semi-orgânicos. Texturas que contra a luz
incorporam o espaço sem absorvê-lo, retorcem-no sem tragá-lo aos contornos do
arame. Aquilo que poderia vir a ser apenas uma forma, fixada pela força de
retenção dos contornos que lhe dariam substância, atravessa. São compostos
movimentos heterogêneos em torno de variações que produzem avizinhamentos com a
música – velocidade, intervalo, ritmo. O saltar de forças sonoras atravessou
Sartre quando, presenteado por Calder, descreveu o móbile que recebera como
“uma pequena ária de jazz-hot, única e efêmera”. A escuta musical, adverte
Sílvio Ferraz, é um território que “não se dá apenas na forma de blocos de som
e silêncio, mas na forma de blocos de movimento e duração, e uma série de
intensidades (...) cujo objeto não é o som, mas a qualidade de sensação
musical.”. As coisas-fluxo de Herê Fonseca, expostas em Oscilações, fazem
proliferar ouvidos, ou mais propriamente, sensações musicais, nestes nossos
corpos acostumados a ver.
Dolores
Galindo – ECCO/UFMT
O desejo de apagar fronteiras.
Wagner Barja
Fronteiriços
é como deveriam nomear-se as invenções de Herê Fonseca. Entre a pintura bidimensional e o desenho
tridimensionalizado, que se constrói e se projeta no espaço em aramados
retorcidos ficam os questionamentos desse instintivo artista, que remonta um
diálogo de entrelaçamentos das linguagens.
A característica expressionista das obras demonstram a insatisfação
desse Herê, em obedecer limites e adaptar-se às tradições.
Torna-se
evidente nas suas experimentações, a manifestação de um desejo incontrolável de propor outros possíveis, que
venham celebrar uma inquietação, própria
de quem sempre aspira novidades.
Wagner Barja - artista plástico e crítico de arte – Brasília DF
Sobre as esculturas espaciais de Herê
Fonseca:
O
risco, o rabisco, o traço, flutuando na simplicidade de um imaginário mundo que
se move tilintando em sombras.
Morelato
– artista plástico – São Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário